Dia 4- Possuído pelo vírus dos anos 80!

Ai, ai! Diário amigo...

Hoje sinto-me meio esquisito. Desde que me levantei, que tenho uma sensação estranha como aquela quando estou com comichão dentro do ouvido e que nunca consigo coçar, porque é num sitio onde por azar só consigo enfiar o dedo mindinho que, vá se lá saber porquê, é pequeno demais para chegar até à comichão. A caixa-de-óculos da minha irmã Alice, disse que pode ser uma espécie de doença igual à da mãe, que está infectada com o vírus da menopausa.Só que no meu caso isto seria uma variante para rapazes que chegam aos 30 anos.A chavala é capaz de até estar certa. Na preparatória ela era espertalhona a Ciências da Natureza.Nos testes, costumava tirar uns medíocres + e ás vezes; médios menos (na altura dizia que ia ser médica). Vai-se a ver e são os primeiros sintomas do meu vírus da menopausa. E eu que não gosto nada de ir à médica!Só de pensar nisso, fico sempre a suar abaixo da cintura.Pá! Sinto-me assim, como que, uma pessoa diferente. Pareço quase aquela miúda que andava com a cabeça à roda como um carrossel e falava com voz grossa, naquele filme de terror muito antigo sobre um padre exorcista. É isso! Sinto que estou possuído (fica descansado que não te vou sujar as páginas de gosma amarela). Não é nenhum demónio desses, até porque eu não sou desses virados...eu gosto mesmo é de gajas.Estou possuído mas mais assim, como pelo espírito da Madonna quando era nova, a dançar rebolando as ancas como naqueles videoclips do "Like a Virgin" ou do "True Blue". Ou, como se tivesse sido tomado pelo espírito daquela boazona italiana, a Sabrina, a cantar “Boys, Boys, Boys”, dentro da piscina com os seus dois balões a saltarem para fora do biquíni. Quando tinha para aí 12 anos, passava longas horas a imaginar-me nessa piscina com ela, até que alguém batia à porta, pois precisava de usar a casa de banho. Enfim, hoje prefiro fechar-me no quarto onde tenho todo o tempo que precisar.Vê lá tu que, a meio da tarde, o desespero era tanto (de tão confuso que me estava a sentir), que tive de agarrar nuns discos de vinil dos Wham que tinha para ali a ganhar pó no móvel da sala e dei por mim a ouvi-los no “hi-fi” do meu velhote. Aquelas musiquinhas “light” fizeram-me logo sentir melhor e ainda mais com aquele melodioso som fanhoso e cheio de estalidos. A minha irmã andou perto.Isto deve ser o vírus da menopausa, mas com uma estirpe dos anos 80. Que cena meu! Pelo sim pelo não, já disse à minha mãe para ir buscar os caixotes de roupa velha que estão no sótão. Não vá amanhã acordar na mesma.
Franquelin
Texto de: António Ferreira